Bolivianos das áreas mais ricas de La Paz começaram a armazenar suprimentos essenciais e a fazer fila para comprar gás antes da eleição presidencial deste domingo (18), temendo a volta dos conflitos letais que se seguiram à votação conturbada do ano passado.

Aquela eleição, depois anulada, levou à renuncia de Evo Morales, líder de esquerda, e mergulhou o país em um vácuo político precário – um governo conservador interino que não foi eleito está no poder desde então.

Agora os 7,3 milhões de eleitores da Bolívia estão em uma encruzilhada enquanto o país sofre com a pandemia de coronavírus: a volta do partido socialista de Morales ou uma guinada para o candidato de centro Carlos Mesa, um ex-presidente que ficou em segundo lugar em 2019.

Muitos, porém, querem simplesmente evitar o derramamento de sangue do ano passado, quando ao menos 30 pessoas foram mortas.

“Quero paz. Chega de confusão. Não queremos mais sangue derramado. Nenhum sangue de nenhum partido político”, disse Sandra Rivero, cujo parente Marcelo Terrazas perdeu a vida em meio à violência do ano passado.

A votação de domingo agora será uma repetição daquela de 2019. Luis Arce, candidato do partido socialista e aliado próximo de Morales, aparece nas pesquisas de opinião à frente de Mesa, mas aparentemente não com uma vantagem suficiente para evitar um segundo turno em 29 de novembro.

A votação, que será presencial com protocolos de saúde por causa da pandemia de coronavírus, começará na manhã de domingo, e os primeiros resultados devem sair perto das 20h locais.

A capital administrativa La Paz é uma cidade dividida radicalmente por classe e raça. Os mais ricos e mais brancos moram na parte inferior, fundada por espanhóis em uma altitude na qual o oxigênio é mais abundante e a temperatura é mais alta. Quanto mais se sobe, mais pobreza se vê.

Na abastada Zona Sur, motoristas esperaram até uma hora para encher os tanques nesta sexta-feira, e grupos de WhatsApp ferviam com iniciativas frenéticas de medidas de segurança.

“As pessoas sofreram muito no ano passado”, disse Freddy Chipunavi, açougueiro do mercado de classe média de Collasuyo, acrescentando que nos últimos dias vendeu 70% a mais de carne bovina a clientes que temem a escassez de alimentos vista no ano passado devido ao bloqueio de estradas.

Muitos bolivianos criticam Morales por se aferrar ao poder durante tempo demais e de contornar limites constitucionais. Outros dizem que ele foi deposto por um golpe, e seu partido alertou para uma repetição, atiçando tensões durante uma campanha tensa.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, ex-presidente chilena, disse em um comunicado na sexta-feira que ninguém quer ver uma repetição das “extensas violações e abusos aos direitos humanos” de 2019.

“É essencial que todos os lados evitem novos atos de violência que possam desencadear um confronto”, disse ela.

(Reportagem adicional da Reuters TV e de Daniel Ramos)

Agência Brasil